Tuesday, May 29, 2012

Carros retomados por financeiras encalham nos pátios

29/05/2012 Carros do Álvaro — Financeiras não conseguem repassar veículos retomados dos maus pagadores.
A julgar pela persistência dos atrasos de 15 a 90 dias nos pagamentos de financiamentos de veículos, que já atingem 8,5% dos contratos ativos e somam algo como R$ 15 bilhões a receber, ainda deve demorar para ainadimplência ceder, como quer o governo e torcem os fabricantes e concessionários para retomar as vendas. Os compradores de carros inadimplentes (considerados só aqueles que não pagam as prestações há mais de 90 dias) já devem mais de R$ 10 bilhões e, até o fim de abril, representam 5,9% dos empréstimos, quase o dobro do que eram há um ano (3%) e recorde para esse tipo de modalidade de crédito. Assim, somados, atrasos e inadimplementos chegam a R$ 25 bilhões e assustam os bancos, que ficaram mais restritivos nas concessões e precisam limpar seus balanços antes de voltar a aprovar as fichas. Essa situação pode frustrar a tentativa de reaquecer o mercado, apesar da redução de preços dos automóveis e de suas prestações anunciadas no início da semana. 

“O melhor indicador de inadimplência futura é o atraso dos pagamentos entre 15 e 90 dias”, destaca Ayrton Fontes, economista e consultor independente de varejo automotivo. De acordo com sondagem realizada por ele no fim de abril passado, esses atrasos cresceram 28% em relação ao mesmo período de 2011 nos oito maiores escritórios de cobrança da Grande São Paulo, contratados pelos bancos para tentar reverter os calotes. Até 15 dias de atraso, o consumidor consegue pagar a parcela na rede bancária e após este período o débito é encaminhado pelas financeiras às suas agências de cobrança.

“Os consumidores da nova classe média, que financiaram veículos em 60 meses sem entrada, principalmente entre 2009 e 2011, são os que mais estão atrasando seus pagamentos, conforme a sondagem realizada”, revela Fontes. “Como foram financiados mais de 800 mil carros dessa forma, a tendência é de aumento da inadimplência para os próximos meses”, avalia.

Com a tendência de alta da inadimplência, os bancos fecharam os cofres para o financiamento de veículos. Conforme os dados divulgados pelo Banco Central na sexta-feira, 25, em abril a média diária de concessões caiu ao menor nível dos últimos dois anos, para R$ 337 milhões/dia. Em 2011, essa média só ficou abaixo de R$ 400 milhões em dois dos doze meses do ano.

Pátios inchados

A falta de crédito gerada pela inadimplência também ajuda a travar o mercado com o inchamento dos pátios cheios de carros usados. De acordo com um levantamento feito por Ayrton Fontes de 30 de abril a 4 de maio, o estoque de veículos leves usados encalhados ultrapassou a marca de 1,5 milhão de unidades. “É o maior estoque já visto em todos os tempos”, diz o economista. Deste encalhe, ele calcula que 1 milhão de veículos estejam nas concessionárias que aceitaram esses carros como entrada para um zero-quilômetro. Outros 320 mil estariam no estoque das lojas independentes e de locadoras e 180 mil são bens retomados pelas financeiras.

“Os leilões de veículos usados realizados por bancos e leiloeiros estão em queda livre, pois os lojistas e corretores independentes temem não conseguir financiamento para seus clientes”, aponta Fontes. Dessa forma, ironicamente, falta crédito até para as próprias financeiras desovarem carros apreendidos por falta de pagamento. “Está muito mais difícil a aprovação de financiamento para o comprador de um carro usado, pois além de a garantia ser de menor valor do que um zero-quilômetro, os maiores consumidores desse segmento têm muitas restrições de crédito”, avalia.

Portanto, antes da retomada das vendas de veículos novos, será preciso saber o que fazer com os usados, principal fonte de entrada dos financiamentos. As concessionárias, segundo Fontes, não conseguem mais receber veículos usados na troca dos novos, pois estão com o capital de giro comprometido na manutenção de seus estoques atuais e temem aumentar os prejuízos futuros com bens que perdem valor a cada dia, inclusive com a redução de preço dos novos, que automaticamente desvaloriza o usado. Assim, o problema da inadimplência e consequente falta de financiamento trava o mercado todo, em equação de difícil resolução.

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